quarta-feira, 15 de agosto de 2007

It's OK to be normal?

COMO ODEIO BANALIDADES

"Eu, que sou mais banal e vulgar, que a mais banal das mulheres.
Eu, que sou tão comum, que nem preciso olhar-me ao espelho,
Igual que sou a tantas outras, com que me cruzo,
E das quais não me distingo.
Odeio banalidades!
Odeio as frases feitas de quem pergunta:
- Olá como está? E não quer saber.
Odeio os bons dias, as boas tardes, as boas noites,
Ditos sem pensar, ou a pensar em coisa nenhuma,
Ou a pensar noutra coisa qualquer que não o desejo,
Que o dia, a tarde, ou a noite,
Corram bem e sejam bons.
Eu odeio frases feitas!
Odeio vizinhas à janela!
Odeio as amigas e amigos nos cafés, nos bares, nos autocarros,
Com vidas tão fúteis e pequeninas que dissecam as dos outros.
Que cortam a casaca dos melhores amigos,
Pedaço a pedaço.
Achando que os amigos, são os melhores amigos, e nunca
cortariam as deles,
Mas cortam!!
E são más-línguas, maus caracteres, sem carácter!
Eu odeio vizinhas a bisbilhotar à janela!
E as pessoas que passam?
As pessoas anónimas que percorrem as ruas em zig-zag evitando
pedintes e mãos que se estendem?
E que colam a mala ao corpo achando que ser pobre é ser ladrão.
E se aconchegam na roupa comprada na Zara, ou nos mercados de rua.
Mas muito sua!
E são caridosos, piedosos, apiedados,
Compreensivos com a desgraça alheia se não tiverem de dar um cêntimo,
E a caridade for só da boca para fora!
Eu odeio a caridade hipócrita da multidão!
E os gajos?
Os gajos mesmo gajos!
Os gajos na verdadeira acepção da palavra!
Os que se sentam em esplanadas ou se encostam em montras
esperando as mulheres,
As deles.
E discretos apreciam pernas e cus das outras,
As que passam.
E lambem os beiços, e coçam os tomates, e pensam ou dizem:
- Esta gaja é muita boa!
Como odeio a frase ”esta gaja é muita boa”!
Dita por gajos que em casa têm mulheres que nem olham,
E às quais nem falam.
E que na cama despacham sexo e mulher,
Despejando o desejo das gajas boas que comeram com os olhos na rua.
Ah! Como eu odeio estes gajos!
E as gajas?
As santinhas, as pudicas, as que têm sempre na ponta da língua um:
Ai credo, um julgamento, uma condenação.
As que são contra o aborto, contra a pílula,
Contra tudo o que seja sexo!
Escrito, pintado, feito, falado.
E quando têm “maus pensamentos” correm às sacristias:
- Sr. Padre, sonhei que estava a fazer sexo oral.
Confessam.
Como se sexo oral fosse um pecado capital,
Esquecendo que só o peixe morre pela boca.
E lavam as mãos nas pias,
E cumprem todas as penitências,
Mas falam do sexo da vizinha que é uma descarada.
E são donas de verdades absolutas.
E nunca têm dúvidas.
E só dizem…
B A N A L I D A D E S!
Ah! Como odeio falsas santinhas e ratas de sacristia!
E eu?
Eu que sou banal, normal, vulgar,
Odeio a vulgaridade!
Mando à merda quem me chateia!,
Escrevo asneiras se me dá na gana!,
Para um sacana sou sacana e meia!,
E como eu odeio sacanas!
Aqueles de falas mansas e que parecem uns santos,
E dão a roupa toda e ficam em pêlo,
Pelos outros.
E em casa vão ao pêlo às mulheres
E deixam-nas:
Negras de pancada,
Negras de dor,
Negras de pavor.
Ah …Se eu pudesse dava um tiro nos cornos desses sacanas!
E a outros:
Aos abusadores, aos ladrões de inocências,aos que roubam
infâncias e semeiam pesadelos.
A esses, castrava-os!
Aos do passado, aos do presente, aos do futuro.
Já que a justiça não castra senão a esperança de justiça!
Eu, que sou mais banal e vulgar, que a mais banal das mulheres.
Eu, que por fora ninguém distingue, ou olha duas vezes ao passar.
Odeio banalidades!"

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